sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uma rede de mudança

         


       Com todo esse caos gerado pela Copa de 2014, pelas passagens de ônibus, pelo transporte público de Porto Alegre e outras tantas questões que tem estado e estão afetando o cotidiano de nós brasileiros e que provocam tantas reclamações, eu de certa forma começo a ver um outro lado de toda essa história. Ao invés de cair no sono como sempre faço logo depois de passar a noite inteira acordada, minha cabeça começou a se encher de vários pensamentos. Enquanto assistia o jornal da manhã, comecei a criar um certo sentimento de orgulho diante das tantas mobilizações que vem acontecendo em diversos pontos do Brasil, mais precisamente da região em que moro, pois é por onde as notícias estão mais quentes na minha cabeça ultimamente. 

         Primeiramente me chamou a atenção os movimentos de protesto contra os cortes de árvores na região perto do Gasômetro de Porto Alegre e que serão feitos devido a Copa que está a caminho (e sua necessidade desordenada de se urbanizar rapidamente). Os ativistas que já haviam permanecido numa outra mobilização no ano passado pelo mesmo motivo, fizeram no início desse mês uma manifestação em prol da qualidade de vida e carregaram mensagens como "Quantas copas por uma copa". Uma manifestação pacífica, bonita e significativa... isso realmente me toca e me faz reacender a esperança de viver numa cidade/país que as vezes parece tão sem rumo, tão sem futuro. Os que estavam/estão lá são motivo de orgulho para todos nós, pois é o nosso futuro que está em "jogo", não a copa! 

        Além disso, também vi o movimento de união e persistência iniciado pelos rodoviários que, desde o fim de fevereiro deste ano, ignoraram o pedido feito pela justiça para promover uma greve mais leviana (com ônibus circulando em horários de pico, apenas) e bateram de frente contra os empresários. Eles (rodoviários) não buscam o aumento da passagem de ônibus, o quê eles querem é o aumento de seus direitos(1) e isso afeta diretamente (é claro!) os empresários, que visam o lucro e fazem questão de colocar a população irritada e estressada com a falta de ônibus - e a ajuda da mídia - contra eles. Enquanto isso, ao lado deles aparece os mesmos manifestantes que lutaram ano passado pela diminuição do preço da passagem de ônibus em Porto Alegre, denominados agora de Bloco de Lutas e que se juntaram ontem em frente a prefeitura para mostrar a sua insatisfação diante da Copa, críticas ao prefeito da cidade, Jose Fortunati, e as empresas de ônibus. Foram em torno de 1500 pessoas, num período que, vale a pena lembrar, faz um calor que não é visto a décadas e os meios de locomoção são praticamente escassos. Mesmo havendo certos pontos isolados em que ocorreram princípios de vandalismo, a manifestação ocorreu de forma tranquila e foi finalizar justamente no Gasômetro, demonstrando simbolicamente o apoio aos ativistas que foram falados inicialmente aqui. 

     Por fim, o que eu vi era um espécie de rede de mudança e de união se formando, eram reivindicações diferentes, porém que juntas promoviam mais força. Isso me comoveu e me fez ver que nem tudo está tão terrível assim. Está calor? sim. Não há ônibus? sim. Ainda tem injustiça? sim. Está tudo perdido? Pelo visto, não!

(1) "As principais reivindicações da categoria são a redução da carga horária para seis horas diárias, o aumento do vale-refeição para R$ 20 por dia, reajuste salarial de 14%, o fim do banco de horas e a manutenção do plano de saúde, sem desconto no salário.  A única proposta aceita foi a do vale-alimentação a R$ 19. Os demais itens da proposta patronal foram rejeitados." (AGÊNCIA BRASIL, 2014)

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