segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Armadilhas da mente e do ego




Temos todo o direito (e na verdade, a obrigação) de perseguirmos aquilo que nos faz feliz.  O que temos que ter é apenas cuidado para não cairmos na armadilha da mente e do ego. Ao menosprezarmos aquele que amamos e que nos ama em troca da euforia do início, estamos, relacionamento após relacionamento, desperdiçando a chance de viver relações profundas e significativas. E então, é possível constatar que não amamos o outro – amamos em primeiro lugar o nosso ego. Não conseguimos resistir à tentação do jogo da conquista, do flerte, do nosso poder de dominarmos as pessoas. Enganados pelas peripécias da mente, dispensamos nossos amores por acharmos que o que tem lá fora é sempre mais interessante.

O irônico é que o jogo de conquistas, assim como o amor quentinho, também cansa uma hora.  E então começamos a lembrar de como era bom ter um cúmplice do lado. De como aquela conchinha era acolhedora. De como o sexo com intimidade era gostoso. De como as conversas eram enriquecedoras. De como o café da manhã compartilhado tinha mais sabor. De como era bom ter alguém pra quem ligar pra contar as notícias boas e as nem tanto. E, adivinha? Saímos mais uma vez em busca daquilo que não temos.

As paixonites já não nos satisfazem mais. Queremos alguém pra chamar de nosso. Nos cansamos dos joguinhos, da insegurança, de não saber o que passa pela cabeça do outro, das baladas, das pessoas que somem sem motivo, dos casos que não dão em nada, dos sexos frígidos. E então, nossa meta passa a ser buscar alguém com quem dividir a cama e a vida. De novo.

O lado bom é que temos o poder de escolha. Quando entendemos que é o amor, e não as manipulações ou as máscaras,  o remédio pra todos os males do mundo, então podemos  nos permitir amar. Sem ansiedade. Sem siricutico. Sem achar que o que dura muito é ruim. Sem a angústia de querer um prato novo em cada refeição. Quando aprendemos a usufruir da calmaria do amor,  nos desalienamos e conseguimos enxergar por trás da névoa perigosa do ego – só então somos finalmente capazes de sair desse ciclo vicioso de amores e dores. E só então podemos ter o prazer de usufruir da única coisa real que temos na vida – o agora.

sábado, 20 de outubro de 2012

Tempos Modernos


A traição sempre aconteceu e não é uma exclusividade dos tempos modernos. Mas hoje, e essa é a frase mais triste que eu poderia dizer sobre esse assunto – é normal. É normal brincar com o coração alheio, a traição já virou rotina, aquela uma vez por semana na balada da quinta-feira, quando é mais fácil dar a desculpa sem imaginação do ‘trabalhei até tarde’. Já ouvi de mais de um amigo o conselho – não importa se ele disse que vai almoçar com a mãe, se vai no futebol ou fazer cerão no escritório: se ele não está com você, ele está te traindo.
Isso, meus amigos, é porque somos uma geração de covardes. Trair é almejar um estilo de vida que você não tem colhões para assumir. Não existe nada de errado em comer uma por noite, se é isso o que você quer. A parte cruel, a parte que realmente determina que seu caráter é praticamente inexistente, é manter uma pessoa ali por segurança. É brincar com as expectativas, com os sentimentos daquele único cara que se importou o suficiente para ficar.
Agora me diz: em que ponto da nossa vida nos tornamos completos idiotas sem compaixão? Estúpidos sem qualquer sentimento de identificação e simpatia com o outro a esse grau? É aí que entra o problema de uma geração inteira de homens e mulheres que hoje têm entre 25 e 35 anos. Ninguém mais se assume. O mundo está mais me parecendo uma grande sala da mãe, em que as crianças continuam ocupadas em quebrar o vaso preferido dela e esconder debaixo do sofá para que ninguém descubra.
by  @vanamedeiros

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A morte

         
           A maioria das pessoas não esta pronta para morte, a sua ou a dos outros. Ela as choca, as apavora. É como uma grande surpresa. Diabos, não deveria ser nunca. Levo a morte em meu bolso esquerdo. Às vezes, tiro-a do bolso e falo com ela: "Oi, gata, como vai? Quando vira me buscar? Vou estar pronto".
           Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua morte. Não reverenciam as suas próprias vidas, mijam em suas vidas. As pessoas as cagam. Idiotas fodidos. Concentram-se demais em foder, cinema, dinheiro, família, foder. Suas mentes estão cheias de algodão. Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem pensar. Esquecem logo como pensar, deixam que os outros pensem por elas. Seus cérebros estão entupidos de algodão. São feios, falam feio, caminham feio. Toque para elas a maior música de todos os tempos e elas não conseguem ouví-la. [...]

Charles Bukowski